O próprio "O Som da Liberdade" apresenta certos pedófilos como indivíduos de comportamento folião e despreocupado, que não intelectualizam suas imoralidades. No entanto, o primeiro a ser encarcerado tem uma aparência geek e disposição intelectual, chegando a escrever um livro com o intuito de racionalizar seus desejos. Este pedófilo defende que todos possuem impulsos semelhantes, mas poucos têm a coragem de expressá-los. Há uma sugestão da existência de um ativismo pedófilo e aqueles que questionam essa realidade poderiam começar a pesquisar sobre organizações e grupos como NAMBLA (North American Man/Boy Love Association), Vereniging Martijn, Associação Pedófila Dinamarquesa, IPCE (International Pedophile and Child Emancipation), K13 (Associação Krumme 13), Boychat, Free Spirits, Forum Newgon, entre outros. A realidade é dura não só na prática, como na mente humana.
Entretanto, assim como a esquerda se equivoca ao eleger "Barbie" como o ápice da sátira intelectualizada, a direita também enfrenta o risco de politizar a arte e confundir dramas interessantes, porém simplistas, com grandes marcos na História do Cinema. Portanto, embora "O Som da Liberdade" seja inegavelmente envolvente, deixa a desejar como obra de arte.
As obras de arte servem para nos libertar das abstrações e nos lançar à concretude da realidade, encontrando densidade onde antes víamos generalizações. Elas não apenas devem retratar circunstâncias particulares envolventes, mas também dramas universais com os quais todos possam se identificar. Se o filme fosse uma verdadeira obra de arte, os personagens deveriam permitir que o espectador se reconhecesse ou visse o que lhe falta nas qualidades e defeitos de cada um deles.
Você já se sentiu alguma vez oprimido por uma força opressiva contra a qual não sabia como lutar, como Roccio? Ou já experimentou o desejo de explorar alguém, negligenciando a subjetividade da pessoa, como os abusadores, mesmo em circunstâncias alheias ao sexo? O que interessa é mais o drama universal do que a circunstância particular. Por exemplo: você já passou por uma forma de violência que não conseguia compreender totalmente devido à sua imaturidade, como Miguel? Ou sempre teve consciência das opressões que enfrentou? Você já aspirou a ser um herói, ou sentiu medo de confrontar o sistema, como Tim, por covardia? Apoiaria seu cônjuge se ele desistisse do emprego para se tornar um herói, como Katherine, ou temeria os desafios financeiros, a carência afetiva e a possibilidade de perda, como a possível morte do marido? Quem você seria nesta narrativa?
Acredito que as experiências negativas das crianças na narrativa careceu de profundidade, não por qualquer falha do roteiro, como sugerem os críticos especializados. Pelo contrário, pode ter sido uma escolha consciente para refletir a compreensão rasa das próprias crianças diante do horror que testemunharam. Abusos sexuais geram emoções tão complexas, como medo, vergonha e confusão mental, que a ficha demora para cair. Às vezes, a vítima retrai-se, sem desespero como Miguel, porque a sua mente recorre a mecanismos de defesa como negação, repressão e sublimação; o choque é tão letal que a mente hesita em liberar lágrimas na quantidade que esperaríamos. Sentimo-nos emocionalmente paralisados, sufocando nossos sentimentos. O esgotamento emocional nos impede de expressar emoções e, em situações de dor crônica ou prolongada, até nos adaptamos à dor.
No entanto, a exploração dos dramas vividos pelos adultos deveria ser mais profunda, começando pela figura paterna.