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Canal de Filosofia Integral

Canal de Filosofia Integral (Spanish)

¡Bienvenidos al Canal de Filosofia Integral! Este canal está dedicado a explorar los diferentes aspectos de la filosofía integral, un enfoque holístico que busca abarcar todos los aspectos de la realidad. Nuestro objetivo es fomentar el pensamiento crítico, la reflexión profunda y la búsqueda de la sabiduría a través de la filosofía integral

¿Quién es Fabio Blanco? Fabio Blanco es un apasionado de la filosofía y un defensor de la integración de diferentes corrientes filosóficas para comprender mejor el mundo que nos rodea. Con una pasión por el conocimiento y el diálogo, Fabio ha creado este canal para compartir ideas, debates y reflexiones sobre la filosofía integral

¿Qué es la Filosofía Integral? La filosofía integral es una corriente filosófica que busca integrar y sintetizar diversas tradiciones filosóficas, científicas, espirituales y culturales en un marco holístico. Se basa en la idea de que la realidad es una totalidad interconectada y que para comprenderla plenamente es necesario abordarla desde múltiples perspectivas

En nuestro canal, encontrarás debates sobre temas filosóficos actuales, análisis de las principales corrientes filosóficas y reflexiones sobre el papel de la filosofía en la sociedad moderna. También compartimos citas inspiradoras, recomendaciones de libros y recursos para aquellos que deseen explorar más a fondo la filosofía integral

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Fabio Blanco

16 Jan, 15:33


Em geral, nós pensamos a democracia como um sistema que busca a igualdade e a participação de todos, direta ou indiretamente, no governo. Porém, o que caracteriza, de fato, a democracia são seus mecanismos de impedimento da centralização de poder por qualquer instituição ou pessoa. A verdade é que a democracia é um freio para o acúmulo de poder. Se, portanto, em uma democracia, alguém tem poder demais, ela falhou. (Nota Política 003)

Fabio Blanco

13 Jan, 18:28


Todas as formas de liberdade são discutíveis e, de alguma forma, relativas. Na verdade, toda liberdade é circunstancial. Há apenas um tipo de liberdade sobre o qual não há nenhuma dúvida: a liberdade do pensar. O homem pode ser restringido em muitas coisas: em sua ação, em seu movimento e até em sua expressão, mas ninguém pode impedi-lo de pensar o que bem entende. (Nota Filosófica 002)

Fabio Blanco

12 Jan, 15:53


Eric Voegelin diz que um rei divino pode ser fruto de uma fé sincera dos seus súditos ou, então, de uma irreligiosidade tal deles que já não se importam se o soberano se declara um deus. Talvez possamos dizer algo parecido dos tiranos "democráticos". Eles podem ser conduzidos pela massa confiante em suas promessas ou alçado a essa posição simplesmente porque o povo já não se importa mais com a liberdade. (Nota Política 002)

Fabio Blanco

10 Jan, 12:45


O nascimento da Psicologia moderna foi, na verdade, um momento intermediário quando se teve a pretensão, no século XIX, de tornar a psicologia uma ciência. No entanto, essa pretensão não durou mais do que algumas décadas. Logo, a psicologia voltou a ser o que sempre foi: uma observação do comportamento humano com uma respectiva orientação para a vida. Talvez essa seja realmente sua vocação. O resquício de pretensão científica foi deslocado para a psiconeurologia e para a psicobiologia. Entender isso é essencial para saber com o que estamos lidando. (Nota Psicológica 002)

Fabio Blanco

08 Jan, 19:29


A Filosofia nasce em Mileto. Não por acaso, um dos primeiros centros onde, apesar da instabilidade política por conta do recente domínio persa, vigorava uma cultura aberta e uma espécie de livre-comércio. Na história, sempre foi assim: o pensamento se desenvolveu onde as circunstâncias foram propícias para tal. Tanto que dificilmente vemos intelectuais camponeses ou operários, ou uma cultura pujante em sociedades fechadas. A verdade é que onde o povo não é livre e as condições de sobrevivência são precárias, dificilmente há fortalecimento do intelecto. Se, portanto, defendemos a liberdade, não é só por uma questão de humanitarismo ou bem-estar, mas porque também acreditamos que ela é essencial para o desenvolvimento da inteligência. (Nota Histórica 002)

Fabio Blanco

07 Jan, 03:43


O homem não foi feito apenas para gozar o mundo, já que o gozo pressupõe uma certa resignação, um deleite do que já existe e, por isso, uma satisfação que só um ser perfeito pode ter. O homem, na verdade, como ser imperfeito e incompleto que é, foi feito para desvendar o mundo, meter-se nele, absorvê-lo gradualmente e compreendê-lo pouco a pouco. Portanto, quem não busca ampliar o seu conhecimento, saber mais, entender mais simplesmente está negando a própria essência do que significa ser humano. (Nota Existencial 002)

Fabio Blanco

06 Jan, 21:01


Um amigo foi morar num sítio, todo contente por fugir do grande centro. Falou para mim que, agora sim, poderia se dedicar à vida intelectual. Voltou seis meses depois indignado e frustrado. Não conseguiu ler um único livro nesse tempo. Disse que sua vida se resumiu em capinar, cortar lenha, cozinhar e cuidar da casa. Apenas sorri. Eu já o havia alertado que as pessoas romantizam demais a natureza. Os intelectuais mais ainda. Mas a natureza é indiferente a nós e não colabora nem um pouco com nossos objetivos de estudos. Como diz um personagem de Oscar Wilde, "a Natureza repele a Inteligência". (Nota Aleatória 001)

Fabio Blanco

06 Jan, 02:56


Foi o cristianismo que universalizou a noção de individualidade – algo que vinha sendo desenvolvido, pelo menos, desde o século IV a.C. – ao instigar os homens a analisarem suas existências pessoais e reconhecerem nisso o seu pecado. Assim, fez, pela primeira vez na história, com que todas as pessoas, mesmo as mais comuns, aprendessem a olhar para si mesmas como seres autônomos, únicos e responsáveis por seus destinos. (Nota Teológica 001)

Fabio Blanco

03 Jan, 19:26


Filósofos pensam possibilidades, antes de tudo. Seu papel é ir além do senso comum. Por isso, muitas de suas especulações têm de ser tratadas como meras hipóteses. Inclusive, é assim que devem ser interpretadas algumas ideias políticas de Platão e Hobbes, as experiências mentais de Descartes, as especulações de Berkeley e as conclusões abstratas de Kant. A verdade é que a filosofia sente-se livre para ir além do imediatamente possível e o bom filósofo tem plena consciência disso. O próprio Locke afirmava que o filósofo tem de saber separar quando está filosofando e quando está vivendo a vida ordinária. (Nota Filosófica 001)

Fabio Blanco

03 Jan, 01:20


Quando pensamos em justiça, tendemos a fazer referência a direitos e obrigações. Se, porém, lermos Platão por essa perspectiva, teremos muita dificuldade de compreender o que ele quer dizer quando fala de justiça. Na verdade, Platão só faz referência a direitos e obrigações de forma indireta. Para ele, justiça tem a ver com o que é justo, ou melhor, com que está bem ajustado, bem ordenado. Na concepção platônica, uma sociedade justa é, antes de tudo, como uma alma bem disposta, ou seja, uma estrutura que tem tudo no seu devido lugar, com cada membro cumprindo devidamente suas funções. (Nota Política 001)

Fabio Blanco

02 Jan, 23:33


CRÍTICA AO PENSAMENTO MARXISTA

Neste estudo, eu analiso as principais teorias do marxismo e suas consequências para a sociedade.

A importância desse estudo está no fato de que o pensamento marxista formatou a mentalidade de gerações no Ocidente.

Sendo assim, entender o marxismo é uma das melhores formas de entender como pensam as pessoas na nossa sociedade.

Valor: R$ 49,90
(acesso imediato a todas as aulas)

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Plano de Estudos:

- Por que estudar marxismo
- Marxismo é Filosofia?
- O antagonista do marxismo
- O caráter revolucionário do marxismo
- Materialismo e conexão universal
- Dialética materialista
- Contradições e saltos
- Evolução e revolução
- Categorias marxistas
- Teoria marxista do conhecimento
- Base e superestrutura
- Materialismo histórico
- Modos de produção
- Luta de classes
- Ditadura do proletariado
- Revolução social
- O Estado
- Consciência social
- Dialética marxista

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

O marxismo talvez seja o maior empreendimento cultural da história da humanidade. Digo empreendimento porque o marxismo foi criado, desde sua origem, com o intuito de formar uma cultura ─ o que ele cumpriu perfeitamente. Existem outras culturas superiores e mais amplas, mas nenhuma foi planejada para se impor de forma tão abrangente, como o marxismo.

Hoje, o marxismo está impregnado em todas as áreas do conhecimento, como se fosse o fundamento inerrante de todas elas. Se você observar bem, vai perceber que praticamente todas as matérias acadêmicas esforçam-se por corroborar, racionalizar e expandir os preceitos marxistas.

Por isso, eu repito que nenhum empreendimento cultural obteve o alcance e o sucesso conseguido pelo marxismo – para azar de todos nós.

Sendo assim, torna-se imprescindível estudar os fundamentos do pensamento marxista. Fazer isso é essencial para entender não só o que pensam os próprios marxistas, mas para compreender a mentalidade das pessoas do nosso tempo.

Se queremos saber as razões do mundo contemporâneo, é inescapável olhar para os princípios marxistas. Afinal, são eles que estão na base de tudo.

Fabio Blanco

02 Jan, 16:52


Para desfrutar da arte, é preciso separá-la do artista. Afinal, o papel do artista não é mostrar a si mesmo, mas, através da arte, evocar, em quem a contempla, sensações, percepções e imaginação. Às vezes, o grande problema da arte é exatamente mostrar demais o artista, com seus interesses, suas ideologias e suas convicções. Quando isso acontece, ela geralmente se empobrece. O gênio faz o contrário, tem a capacidade esconder-se ─ e os seus defeitos ─ atrás de uma obra que consegue ser universal. (Nota Cultural 001)

Fabio Blanco

01 Jan, 12:59


Como Jung deixa claro, "a diferenciação dos quatro temperamentos que assumimos dos antigos pouca coisa tem de tipificação psicológica, já que os temperamentos quase nada mais são do que complexões psicofisiológicas". Por isso, a análise dos temperamentos a partir do comportamento é uma inversão. Comportamento é reflexo do temperamento, um produto dele, não sua característica, estando sujeito a uma infinidade de variáveis, tornando-se, assim, quase imprestável para identificá-lo. (Nota Psicológica 001)

Fabio Blanco

31 Dec, 21:42


O nome "Idade Média" contém, nele próprio, uma definição (um tanto pejorativa), como se indicasse uma era intermediária entre o fim do período clássico e seu ressurgimento, no Renascimento. No entanto, eu entendo que a verdadeira "Idade Intermediária" é o próprio Renascimento, pois é ele que contém, dentro de si, a luta entre os dois mundos: o anterior, teológico, racionalista e formalista, e o que havia de vir, humanista, naturalista e realista. (Nota Histórica 001)

Fabio Blanco

30 Dec, 21:25


Um grande desafio para qualquer pessoa que envelhece é atingir a maturidade sem carregar o peso dos anos, ser adulto sem arrastar o cansaço da vida, ter experiência sem transparecer a desconfiança que as frustrações lhe causaram. A arte do envelhecimento é aproveitar a sabedoria que o tempo lhe proporciona, sem perder completamente a vivacidade que se tinha na juventude. (Nota Existencial 001)

Fabio Blanco

30 Dec, 14:34


Diário – 30 de dezembro de 2024

O mais difícil para o livre-pensador é que seu pensamento livre o faz liberto dos grupos, dos partidos, das ideologias. Sendo assim, é mais difícil encontrar aliados e sua posição é vista com desconfiança. Um livre-pensador é mal-visto porque é interpretado não como alguém que se esforça por ponderar tudo e chegar às próprias conclusões, mas como quem insiste em não aceitar o que é imposto pela coletividade – e isso soa como uma afronta.

Fabio Blanco

28 Dec, 19:40


Diário — 28 de dezembro de 2024

Lembro quando li o livro História da Arte, do Gombrich, pela primeira vez, que eu até sonhava com algumas das obras. Recordo-me que, em um dos sonhos, as musas de Botticelli apareciam na minha sala. Mas era uma aparição um tanto sombria e eu sentia medo delas. Na verdade, muitas dessas pinturas costumam acessar algo do nosso inconsciente coletivo e parte desse conteúdo mexe com aspectos obscuros dentro de nós. Talvez por isso essas obras de arte sejam, ao mesmo tempo, tão atrativas e incômodas.

Fabio Blanco

27 Dec, 02:03


Diário — 26 de dezembro de 2024

É absolutamente enfadonho o desfile de virtudes de todas as cores que se manifestam por aí. Não apenas da turma de politicamente correto, mas também dos conservadores. É tanta gente virtuosa que, diante delas, eu não passo de um pecadorzinho bem sem-vergonha.

Fabio Blanco

26 Dec, 21:20


FILOSOFIA ORDINÁRIA | A função esclarecedora da filosofia

Muita gente pensa que filosofia precisa ser complexa. Inclusive, imaginam-na como um tipo de conhecimento esotérico, acessível apenas aos iniciados.

Os próprios filósofos fomentam essa percepção. Não foram poucos que expressaram suas ideias filosóficas de forma hermética, usando termos inusuais e raciocínios obscuros. Contribuíram assim para a ideia de que filosofia se trata de matéria que não interessa a quase ninguém, senão a alguns poucos especialistas.

No entanto, filosofia não é matéria exclusiva de um grupelho de aficionados, mas assunto que deveria ser do interesse de todos. Afinal, as questões da existência, que é o objeto próprio da filosofia, afetam a todos

Qual o sentido, então, da filosofia esconder-se por trás de conceitos impenetráveis e formas pomposas de expressão? Se sua função é fazer-nos compreender a própria vida, ela precisa ser esclarecedora, não obscura.

E por mais que a verdade costume se esconder por trás das aparências e se manifeste de forma fragmentada, exatamente por isso a filosofia deve se esforçar para revelá-la, de forma que até os mais comuns dos homens consigam entendê-la.

Por isso, a filosofia não pode ser complicada. Na verdade, ela deve ser complacente a ponto de se vestir segundo a moda ordinária, como dizia Locke. Se a vida é complexa, a filosofia está aí para fazê-la simples; se obscura, clara; se estranha, compreensível.

Como dizia Ortega, a clareza é a cortesia do filósofo. Portanto, ele precisa lembrar-se que sua verdadeira função não é auto-estimular-se com raciocínios enigmáticos e conceitos misteriosos, mas esforçar-se para dissipar a névoa de confusão que permeia tudo.

Fabio Blanco

25 Dec, 21:14


Diário – 25 de dezembro de 2024

Estou lendo quatro livros concomitantemente. Um pela primeira vez: Filosofia Política, do Colin Bird; os outros três são releituras: História das Ideias Políticas, do Voegelin, História da Arte, do Gombrich e Tipos Psicológicos, do Jung. O que eu acho mais interessante é ver como esses temas, apesar de diversos, se complementam e se interpenetram. Perceber isso me anima muito, porque me vejo contemplando a beleza do conhecimento que existe.

Fabio Blanco

24 Dec, 16:22


Diário ─ 24 de dezembro de 2024

Fico entediado fácil e passar muito tempo debruçado sobre apenas um tema me aborrece demais. Esse é o motivo de eu não ser cientista nem pesquisador. Trabalhar concatenando temas e abordagens diferentes tem muito mais a ver com meu temperamento. Vou confessar o que me estimula: colocar quatro livros sobre a mesa, deixá-los abertos na minha frente e ficar passando de um para o outro, como se estivesse conversando com quatro pessoas ao mesmo tempo.

Fabio Blanco

20 Dec, 13:52


OS DOIS "SÃO MATEUS" | O retrato de uma época das obras de Caravaggio

Certos personagens representam bem a época em que viveram. Caravaggio é um desses e a história da confecção dos seus quadros chamados “A Inspiração de São Mateus” nos mostra isso.

Conta-se que “A Inspiração de São Mateus” foi encomendada pelos padres da Capela de São Luis dos Franceses, de Roma, e que a primeira versão teria sido rejeitada por ser considerada indecente pelos religiosos, os quais teriam aceitado de bom grado a segunda versão.

Mas qual a diferença entre os quadros que teria causado toda essa celeuma?

Naquele aceito pelos religiosos, vemos o anjo apresentado num nível superior, como que ditando o conteúdo da Revelação, enquanto o apóstolo, apoiado desajeitadamente sobre um banquinho improvisado, com os pés flutuantes, parece preocupado apenas em anotar a mensagem, sem sequer olhar para o papel, numa expressão de respeito, obediência e até temor. Não transmite reflexão, apenas obediência.

No quadro rejeitado, São Mateus é retratado no mesmo nível do anjo, o qual conduz suas mãos, como se ambos estivessem, em parceria, construindo a narrativa. O apóstolo é retratado confortavelmente sentado, com as pernas cruzadas, numa postura firme e concentrada, absorto nas palavras a serem escritas. Aqui, já se percebe uma certa autonomia humanista.

Caravaggio, no primeiro quadro, parece expor sua visão renascentista do Evangelho, mostrando o santo numa postura ordinária e simples e o divino próximo dos homens. Como, porém, os padres teriam achado este um retrato indigno do santo, o artista se preocupa em entregar uma segunda pintura mais conforme a visão dos religiosos. No entanto, sem deixar de expor um tom crítico e até irônico, não exatamente na representação da obediência apostólica, mas em sua postura servil, afoita, preocupada e superficial. De qualquer forma, foi este trabalho o que mais agradou os encomendadores.

A verdade é que o contraste entre os quadros reflete o espírito do Renascimento, oscilante entre a religiosidade obediente e a busca por autonomia e vacilante entre a subordinação à autoridade e a liberdade de pensamento. Os "São Mateus", de Caravaggio, são, de fato, o retrato de sua época.

Fabio Blanco

19 Dec, 17:26


Pessoal, estou disponibilizando um treinamento que ensina a organizar o pensamento. São 12 exercícios que o aluno faz e eu corrijo e comento individualmente. No final, o aluno é capaz de pegar qualquer conhecimento que possua e ordená-lo de uma maneira lógica, coerente e objetiva.

E tudo feito no tempo do aluno, sem horários nem pressão.

Quem se interessar, basta se inscrever por aqui https://www.fabioblanco.com.br/oficina-de-organizacao-de-ideias/

Fabio Blanco

19 Dec, 11:57


CULPA MODERNA | A insatisfação permanente do indivíduo na modernidade

É comum pensar a culpa como um sentimento tipicamente cristão. Não por acaso, filósofos, como Nietzsche, acusaram o cristianismo de ser um peso inconveniente sobre os ombros dos homens.

O que Nietzsche não percebeu, porém, é que a mente atormentada pela culpa não surge, na história, na era medieval, que é essencialmente cristã, mas na Modernidade, que não é.

A culpa, como aquele sentimento permanente de decepção consigo mesmo por não fazer o que poderia ter sido feito, não não era familiar ao homem da Idade Média. Como membro do corpo social, ele tinha funções muito bem determinadas. Seu papel era obedecer o destino que lhe era imposto. Assim, sem a perspectiva de ir além do que lhe cabia, não se culpava por não ter mais do que possuía.

Já na Modernidade o homem, desvinculado dos destinos da sociedade, passou a ter de traçar o seu próprio caminho. Com isso, foi forçado a desenvolver seus próprios métodos. Nesse contexto é que se proliferaram os conselhos de comportamento, as dicas de etiqueta e de postura, as regras, os hábitos e as disciplinas. Inclusive, exercícios espirituais, como os de Inácio de Loyola, fizeram muito sucesso.

Agora, responsável por cumprir suas próprias metas, o homem moderno passou a ser um vigiante de si mesmo. Relaxar já não era mais uma opção. Surge então a rigidez puritana e a desconfiança constante de uma Santa Teresa D’Ávila, que dizia: “Não vos deis por seguras, nem vos deiteis a dormir. Ficamos nós mesmas e bem sabeis que não há pior ladrão”.

Na Modernidade, exigir mais de si mesmo passou a ser a regra. Não havendo mais definições claras do que cada um deveria fazer e poderia ser, sempre se podia acreditar que era possível fazer mais e ser melhor. A insatisfação, portanto, passou a ser a marca da modernidade.

Foi assim que se instalou no homem moderno a culpa, como o reflexo daquela sensação de que o que se é e o que se faz nunca é o suficiente.

A verdade é que, por mais que o homem medieval temesse os castigos divinos, é o moderno que vive assombrado pela consciência. Pois é ele que se culpa por não conseguir ser tão bom quanto acredita que poderia ser.

Fabio Blanco

18 Dec, 15:07


UM EQUÍVOCO SECULAR | O verdadeiro sentido da frase "o homem é o lobo do homem"

Perguntei aos alunos de quem é a frase “o homem é o lobo do homem”, onde está escrita e qual o seu significado.

Quase todos disseram que a frase era de Thomas Hobbes, escrita em seu livro Leviatã, e significava que o homem, por natureza, faz mal ao próprio homem.

Muitos sites trazem a mesma informação.

No entanto, esse caso nos mostra a importância de se buscar as fontes primárias, em vez de basear-se, exclusivamente, em informações de segunda mão.

Digo isso porque, neste caso, há muitos equívocos a serem considerados.

Primeiro, a frase não é de Hobbes, mas de Platus, dramaturgo romano do século II a.C. A frase original seria “Lupus est homō hominī, nōn homō, quom quālis sit nōn nōvit”, a qual pode ser traduzida por “O homem não é homem, mas um lobo, para um estranho”.

Segundo, a célebre frase não foi escrita no “O Leviatã”, mas no livro anterior de Hobbes, “Do Cidadão”.

Terceiro, a citação não é literal. Hobbes, na verdade, faz quase uma paráfrase. Assim ele escreve: “Ambos os ditos estão certos: que o homem é um deus para o homem, e que o homem é lobo do homem. O primeiro é verdade se compararmos os cidadãos entre si. E o segundo, se cotejamos as cidades”. O que o autor quis dizer aqui, considerando todo o contexto no Capítulo I do livro, onde se encontra essa citação, é que a violência que os homens condenam na atitude de seus governantes e concidadãos, praticam-na com os povos estrangeiros; que enquanto buscam paz na própria cidade, fazem guerra com as outras.

Percebe-se, portanto, que a citação de Hobbes envolve uma ideia muito mais ampla do que, simplesmente, a de que o homem é, por natureza e de maneira imutável, um inimigo dos outros homens. O pensamento é bem mais complexo e até ambíguo.

No entanto, transmitiu-se, por gerações, um pensamento bem mais simplificado, quase contradizendo o sentido original.

Seja como for, este caso mostra como mesmo uma citação célebre e replicada por séculos pode conter imprecisões consideráveis de sentido e erros de localização, quando não em relação à própria autoria.

Por isso, o estudioso sério deve sempre procurar as fontes originais das ideias, evitando assim ser um mero repetidor de equívocos seculares.

Fabio Blanco

15 Dec, 12:48


O PECADO DE ADÃO | A verdade por trás do símbolo

Por trás do mito adâmico encontra-se uma verdade perene e um símbolo que representa a própria condição humana. Nele, aparece o pecado original do homem, motivo pelo qual foi castigado com a expulsão do Paraíso. Mas qual, de fato, teria sido esse pecado e qual a razão para atitude tão drástica da parte de Deus?

Tradicionalmente, pensa-se no pecado de Adão como um mero ato de desobediência: ter tomado do fruto da árvore do conhecimento ─ ato que lhe havia sido expressamente proibido. Porém, por detrás da simbologia do ato pecaminoso encontra-se uma decisão muito mais séria do que comer uma fruta; encontra-se uma rebelião deliberada.

Muitos teólogos entendem que o pecado de Adão seria ter a pretensão de conhecer (tomar da árvore do conhecimento) mais do que Deus lhe permitia. Porém, esse jamais poderia ser o seu pecado, pois Deus o criou como um ser pensante e o pensamento sempre exige expansão. Seria, portanto, um contrassenso Deus condenar alguém por agir exatamente de acordo como Ele o fez.

Adão, na verdade, pecou não por querer conhecer, mas por querer conhecer sem o auxílio divino, sem a orientação do seu Criador. Isso porque o projeto de Deus, para ele, era ajudá-lo no seu processo de amadurecimento da autoconsciência. Deus queria que ele crescesse no conhecimento, mas sob sua tutela.

Mas por que esse desejo de autonomia é tão grave? Por ter sido fruto de sua inveja em relação à soberania intelectual divina. Adão quis ser como Deus, quis pensar por si mesmo, conhecer por si mesmo, descobrir as verdades por si mesmo, através de suas próprias percepções e sentidos.

Um pecado, aliás, que não é apenas do primeiro homem, mas, incrustado na alma da humanidade, passou a ser repetido continuamente por ela. Os homens tornaram-se como deuses e passaram sua história esforçando-se por desvelar e definir a verdade por conta própria. Um esforço que lhes rendeu, certamente, muitas conquistas, mas também muitos erros e mazelas.

Fabio Blanco

11 Dec, 09:23


ESPERANÇA NA IRRACIONALIDADE | O caminho do mundo em direção ao pós-modernismo

Vivemos a pós-modernidade! Mas, o que isso significa e como chegamos aqui?

Essa rota tem início no Renascimento, quando os homens decidiram abandonar o transcendente como o centro de suas preocupações e colocar, em seu lugar, eles mesmos e a natureza que os cercava.

O Renascimento, então, dá à luz a verdadeira oposição à perspectiva religiosa: a Modernidade. Nesta, o valor maior passou a ser a capacidade humana de pensar por si mesmo e de definir seus próprios rumos. Esse é o tempo do racionalismo, do empirismo, do cientificismo.

O fruto mais notório da Modernidade foi o Iluminismo, especialmente em sua versão francesa. Nela, no lugar de Deus, da Igreja e da religião, a Razão foi colocada no altar para ser venerada.

A partir daí, a mentalidade do mundo Ocidental passou a ter duas características marcantes: uma firme confiança na capacidade racional dos homens e um otimismo inabalável em suas possibilidades de conquistas. Racionalismo e Progressismo: as duas cabeças da hidra moderna.

No entanto, o racionalismo, com seu espírito positivista e revolucionário, não levou a humanidade ao paraíso prometido. Na verdade, a confiança irrestrita na razão levou à bomba atômica. Afinal, o Projeto Manhattan é a culminação de séculos de exaltação da capacidade humana de encontrar soluções para seus problemas.

O fim trágico da Segunda Guerra Mundial provocou uma ressaca no racionalismo moderno. No entanto, em vez de levar os homens de volta a Deus, fê-los refugiarem-se ainda mais dentro de si mesmos.

Nesse contexto, consolida-se o movimento que já vinha sendo delineado há algumas décadas: o pós-modernismo, o qual pode ser considerado como uma desconfiança na razão, porém, sem abandonar o otimismo no homem. É, de fato, um depósito de esperança na irracionalidade.

Fabio Blanco

09 Dec, 14:17


IMPREVISIBILIDADE DA VIDA | O caráter imponderável da experiência humana

A vida é complexa. Ainda que existam leis que a sustentem e fenômenos que se repitam, a maneira como tudo isso se relaciona permite uma infinidade de combinações que tornam tudo muito imprevisível.

Só que o ser humano não gosta dessa imprevisibilidade. Ele quer estar seguro de que amanhã vai acontecer o que ele espera. Ele quer poder fazer seus planos e contar que as coisas vão ocorrer como planejado.

Então, para afastar essa imprevisibilidade, ele se engana. Cria esquemas mentais que simplificam a realidade, eliminam sua complexidade e pretendem colocar cada coisa em seu devido lugar. Espera, assim, tornar tudo mensurável, calculável e, por consequência, previsível. Pode, finalmente, com isso, sentir-se em paz.

No entanto, as incongruências e contradições da realidade são cegas e surdas a esses arranjos ilusórios. Elas apresentam-se violentamente e sem dó, desmanchando a pretensa ordem, desmontando o equilíbrio e desmascarando a falsidade.

Se a pessoa for minimamente sã, é de se esperar que ela perceba isso e comece a ajeitar a sua vida de acordo com essa imprevisibilidade. Porém, o que mais se vê é gente se apegando ainda mais fortemente às fantasias esquemáticas. Quando não é isso, dirigem-se para o extremo oposto e desenvolvem um sentimento de absurdo, de falta de sentido. Ficam, assim, oscilando entre o fortalecimento da quimera e o mergulho no desespero.

O mais saudável, de fato, é instalar-se na realidade com coragem, aceitando suas instabilidades e indefinições. Quem quer viver em paz, sem racionalizações nem frustrações, deve simplesmente assumir a imponderabilidade da experiência humana e aprender a conviver com ela.

A verdade é que a vida precisa ser encarada não como se fosse uma estrada reta, sinalizada e bem pavimentada e, por isso mesmo, tediosa e triste, mas como uma aventura, que tem na aleatoriedade e na surpresa o seu verdadeiro sentido e prazer.

Fabio Blanco

05 Dec, 21:05


AS IDEIAS DOS NÁUFRAGOS | A necessidade de aceitar o caos da nossa existência

Ortega y Gasset esceveu que são as ideias dos náufragos que importam. Afinal, o pensamento de quem naufraga está envolvido em um cenário concreto, inescapável, fatal; é um pensamento que dispensa o supérfluo e precisa agarrar-se ao essencial.

Nós, diferente do náufrago, negamos a fatalidade da nossa circunstância. Vivemos como se nossa terra fosse firme, como se não houvesse um mar de incertezas à nossa volta. Negamos a incoerência da existência e as contradições da vida, refugiando-nos em abstrações e agarrando-nos nas artificialidades que criamos.

E não há nada mais artificial do que a civilização que erigimos. Nossos modelos sociais, com suas estruturas jurídicas, sistemas de governo e instituições podem nos dar a sensação que nosso mundo é estável e seguro, mas não passam de "quadros fantasmagóricos", como dizia Ortega.

Esquecemos que toda a nosso mundo civilizado não é natural e deixamos que ele nos hipnotize. Acreditamos que a paz e a ordem que experimentamos são espontâneas e deixamo-nos ser alienados por isso.

Tal segurança favorece, então, nosso fingimento e a afetação. Permitimo-nos se perder em sutilezas vazias e especulações estéreis. Mergulhamos na futilidade.

O náufrago não tem esse privilégio. Em meio ao caos e às restrições que enfrenta, ele organiza sua vida com base naquilo que lhe está disponível. Nesta situação, não há lugar para fingir que está tudo bem. Diante do caos instalado, ele precisa ser sincero e absolutamente honesto consigo mesmo, sem agir como se sua situação não fosse trágica.

O náufrago precisa conscientizar-se radicalmente da sua situação, abrir totalmente sua visão para sua circunstância. Ele precisa admitir que está perdido, assumir o seu caos. Só assim tem alguma chance de sobrevivência.

Por isso, suas ideias é que importam. Afinal, precisamos, como o náufrago, aceitar que o substrato da nossa realidade é caótico e fatal; precisamos deixar de ser fingidos, deixar de pose, deixar de afetação; precisamos valorizar aquilo que é essencial. Precisamos pensar como ele porque só assim podemos realmente nos salvar.

Fabio Blanco

03 Dec, 22:34


PEQUENOS DEUSES | A relação da natureza divina com a natureza humana

Como pode um Deus perfeito fazer-se homem, como propõe o cristianismo? Como pode uma natureza infinita e incorruptível misturar-se a outra inferior e corrompida?

Na verdade, o homem possui duas naturezas. Uma, inferior, constituída pelo seu corpo, sua carne, seu sangue, de onde partem seus impulsos e suas reações. Nela encontra-se sua animalidade. Outra, superior, onde reside tudo o que é consciente. Nesta encontra-se sua mente e seu espírito.

Deus, por seu lado, possui apenas uma natureza. Ele não tem corpo, nem carne; nele não há impulso, nem instinto; tudo nele é consciente, tudo é razão. Deus é razão pura. Deus é espírito.

Obviamente, um Deus puramente espiritual não pode se misturar à animalidade, mas deve pairar, impassível, para além do mundo dos instintos. Consequentemente, um Deus que não se mistura à carne, que não reage, que não sente, só pode ser um Deus frio e distante. Não por acaso, chamaram-no de o 'Deus absconditus'.

Por isso, o que o cristianismo fez foi uma subversão. Ele humanizou Deus. Fez dele carne, sangue, suor e lágrimas. Rebaixou-o, de alguma maneira.

Mas como o Deus-espírito pôde assumir uma natureza inferior que é a negação de sua própria natureza?

Pensemos: o homem é obra de Deus e toda obra existe, antes, no espírito do seu criador. Logo, o homem, antes de existir, tem de ter sido pensado por Deus e, por isso, gerado do interior do ser divino. Conclui-se que a carne não pode ser estranha a Deus porque nela esteve (ainda que em ideia) antes de ser. Portanto, não somos a negação de Deus, afinal, o que somos veio de Deus.

A verdade é que Deus permanece em nós mesmo quando passamos a ser mais do que uma ideia dele. Sendo uma expressão sua, carregamos em nós sua essência. Sendo sua imagem, refletimos seu ser em nós.

E ainda que nossas imperfeições nos afastem de sua pureza, é certo que não podem extinguir a fagulha de Deus em nosso ser. Podemos não reter toda sua infinitude, mas mantemos resquícios dos seus atributos, os quais permanecem em nós, ainda que de forma atenuada, parcial e dependente.

Podemos dizer, de fato, que somos como pequenos deuses, ou seja, cópias imperfeitas daquele que nos gerou.

Fabio Blanco

02 Dec, 14:45


SOLITÁRIOS FESTIVOS | Características da solidão contemporânea

Os novos gurus aconselham que as pessoas busquem a paz interior, pratiquem mindfullness e aprendam a gozar do silêncio. Só esquecem que é exatamente do silêncio que elas fogem ao lançarem-se na algazarra cotidiana.

Isso porque o silêncio é incômodo, já que faz ressoar nelas seu próprio vazio interior, onde toda convicção pública e certeza propagada cai por terra. Um vazio que escancara a falsidade íntima e a fragilidade de quem já não consegue acreditar em mais nada, apenas em si mesmo.

Por isso, rendem-se, tentando lidar com essa vulnerabilidade, aos movimentos mundanos. Fazem isso, porém, não para se sentirem mais fortes, mas para calar o som do silêncio que ressoa a fraqueza dentro delas.

É verdade que não deixam de ser solitárias, só que não daqueles tipos tristes e melancólicos. Pelo contrário, são ativas, sempre cercadas por gente, sempre ocupadas. Vivem em meio a festas, encontros sociais, eventos, coletividades e associações. São dispostas e realizadoras.

Mas é bom não se enganar: essa ida em direção ao mundo trata-se apenas de uma forma de esquecerem quem realmente são.

É, de fato, uma fuga de si, só que uma fuga que termina numa negação de si. Como se acostumaram a misturar-se à multidão para esquecerem sua fragilidade, perderam sua autonomia. Deixaram de ter desejo próprio, escolha própria, vida própria. Tentaram escapar da solidão e, no fim, acabaram apenas escapando de si mesmas.

Tudo isso porque o indivíduo contemporâneo, na história, deu um mergulho vertiginoso para dentro de seu próprio interior, onde acabou agarrado à sua subjetividade, abraçado à sua verdade e submetido aos seus sentimentos e percepções.

Terminou, então, trancafiado em suas limitadas perspectivas, sufocado por sua limitada subjetividade, só conseguindo olhar o mundo exterior como que por um periscópio.

No fim, ainda que vivendo no mundo, acabou tendo apenas uma relação fugaz com ele. Descobriu, então, que não podia livrar-se do sentimento de vazio no seu interior. Descobriu que não deixou de ser um solitário, apesar de festivo.

Fabio Blanco

30 Nov, 23:32


AVENTURA DO CONHECIMENTO | O projeto divino pela ampliação do entendimento humano

Todas as formas de liberdade são discutíveis, exceto uma: a liberdade do pensar. O homem pode ser restringido em muitas coisas: em sua ação, em seu movimento e até em sua expressão, mas ninguém pode impedi-lo de pensar o que bem entende.

O pensamento é livre, por definição. Pensar é uma carreira sem margens, é um vôo pelo infinito. Para ser limitado, o pensamento precisaria ter a noção exata do que o limita, porém, se a tivesse, teria que ter também a noção do que transcende esses limites, e ter esta noção já é, de fato, transcendê-los.

Por isso, o pensamento não aceita manter-se circunscrito aos dados que já possui. Ignorante de suas fronteiras, ele sempre quer ir mais longe, seguir adiante. Assim, conhecer acaba sendo o seu impulso natural.

Esse é o motivo de Aristóteles dizer que o homem tem um desejo natural pelo conhecimento. Deus o fez assim, com esse ímpeto por investigar, perscrutar, descobrir.

Está claro que o homem não foi feito apenas para gozar o mundo, já que o gozo pressupõe uma certa resignação, um deleite do que já existe. O homem foi feito para desvendar o mundo, meter-se nele, absorvê-lo gradualmente e compreendê-lo pouco a pouco.

Na verdade, Deus lançou o homem numa grande aventura e negá-la é renunciar a um aspecto fundamental do ser.

Abandonar a busca pelo conhecimento, resignar-se a uma vida de mera fruição, não se empenhar por aprofundar-se no entendimento das coisas é simplesmente rejeitar uma missão divina e acomodar-se ao lado dos seres inferiores – é, de fato, viver como bicho.

Fabio Blanco

27 Nov, 20:11


PENSAR POR PALAVRAS | O vício do pensamento abstrato e suas consequências

Uma pessoa fala uma coisa, a outra aparentemente fala a mesma coisa e, no final, elas estão falando de coisas completamente diferentes. Este é o resumo das discussões que se vê por aí. Os debatedores usam os mesmos símbolos, mas a realidade a que se referem, geralmente, são bem discordantes.

Isso acontece porque as pessoas usam palavras sem entender bem os seus significados. Usam os sinais, mas ignoram a realidade que se encontram por detrás deles.

A educação formal só piora esse problema. Afinal, na escola, somos metralhados com termos e expressões sobre os quais temos ideias apenas muito vagas. Ainda assim, forçam-nos a usá-las. Então, acostumamo-nos a falar sobre o que não entendemos, achando que estamos entendendo tudo.

Passamos, então, a vida inteira falando palavras que só conhecemos pelos seus símbolos, pelos seus sons, por suas letras, mas pouco sabemos sobre a realidade a que elas se referem. Ainda assim, usamo-nas cotidianamente, como se delas fôssemos íntimos.

Termos abstratos como “liberdade”, “amor”, “democracia”, “ética”, “virtude”, “coragem”, “pecado” são repetidos constantemente. A que se referem, na prática, poucos sabem dizer. O que não impede serem expressados com convicção.

Tanto que o que mais existe é gente tida por inteligente, abusando dos termos abstratos, que quando instada a apontar, na realidade, a que esses termos se referem, atrapalham-se completamente. Aliás, esse é o maior vício de juristas, teólogos, filósofos e eruditos em geral.

O pior é que esta é uma doença contagiosa, que se espalha por toda a cultura, se impregnando na mente de todo mundo. Tanto que, hoje em dia, já não se pode confiar no que qualquer pessoa diz, pois é quase certo que as palavras que ela usa não tenham perfeita relação com o que ela quer dizer. Tudo porque, quando fala, pensa na palavra não na coisa em si.

Por isso, quem quer falar bem, escrever bem e se expressar corretamente precisa, antes de pensar por palavras, buscar entender a realidade a que essas palavras se referem. Do contrário, serão apenas papagaios repetindo sons que não entendem.

Fabio Blanco

25 Nov, 15:00


FUGA DO TÉDIO | Como eu faço para escapar da melancolia

O tédio é o substrato do cotidiano. Portanto, o que diferencia as pessoas é a forma que cada uma escolhe para livrar-se dele. Mesmo os aventureiros sentem algum vazio e, talvez, o sintam mais e, por isso mesmo, buscam formas mais extremas de preenchê-lo.

Um padre do deserto dizia que a tristeza não tem morada. Por isso, geralmente, esses que vivem como moscas, sem parada, de um lado para o outro, sempre em busca de uma nova experiência, são os que mais sofrem com esse buraco no meio da alma.

A verdade é que sentir-se preso a uma vida entediante é uma experiência universal. A jornada de quase todo mundo está longe de ser uma história de ação, parecendo mais um roteiro de filme cult francês.

O que fazer, então, para escapar dessa pasmaceira? A maioria das pessoas faz isso da forma mais óbvia: movimentando-se. É por isso que as academias, os entretenimentos, os jogos, as viagens de lazer e as reuniões sociais são as atividades preferidas.

Alguns inventam projetos, metem a cara no trabalho, outros se lançam na política, outros ainda engajam-se em movimentos sociais. Mas há ainda aqueles que se afundam nas drogas, nos prazeres extremos e nos riscos alucinantes. Todos, enfim, tentando escapar do tédio.

Mesmo eu, sentado em minha escrivaninha, lendo, estudando e escrevendo, parecendo inteiramente satisfeito, sou profundamente afetado por ele. Quem me vê em silêncio, quase imóvel, pode concluir que estou em paz, realizado, protegido dos males da melancolia. Só não sabe que, como qualquer um, o aborrecimento me persegue.

Dentro de mim não há a tranquilidade do monge nem o equilíbrio do guru. Não fico tranquilo na rotina e sinto constantemente que preciso preencher a lacuna na minha alma. Sigo ininterruptamente incomodado, meu espírito dificilmente está estável e dentro de mim espreita uma constante ausência de sentido.

É por isso mesmo que eu leio e escrevo tanto. No fundo, toda minha dedicação às palavras é também uma forma de evasão. Ler e escrever é uma maneira, muitas vezes extrema, de evitar o enfastiamento. No fundo, ser um escritor é o jeito que eu encontrei de não morrer de tédio.

Fabio Blanco

13 Nov, 12:22


Quem sou eu? Um especialista em assuntos não especializados, com alunos que não querem ser especialistas em nada, apenas ficar mais inteligentes.

O que eu ensino? Ensino tudo o que eu achar interessante para desenvolver a inteligência do indivíduo, afinal, nada é desinteressante para uma mente interessada em conhecer.

Como aprender comigo? É só assinar minha Oficina de Inteligência.

www.fabioblanco.com.br

Fabio Blanco

13 Nov, 01:53


https://youtu.be/Xbx43aulbOQ?si=Rz18LTvYnMl4OlYf

Fabio Blanco

12 Nov, 14:32


Religião e Indústria

O mundo ocidental cristão se orgulha de sua pujança capitalista. Aqui, o mercado desenvolveu-se com muito mais liberdade que em outras partes do mundo.

Uma tese que tenta explicar essa simbiose entre religião e indústria é a de Max Weber, que afirmava que um dos grandes responsáveis pelo espírito capitalista era a a ética protestante.

Segundo ele, o calvinismo, que acreditava na predestinação, ou seja, na salvação apenas dos escolhidos, fez com que uma das marcas dos predestinados fosse ser bem sucedido materialmente por meio do seu ofício. Assim, empreender e conquistar tornou-se sua motivação; trabalho e prosperidade, sua marca.

No entanto, o professor de economia Clarence Edwyn Ayres pensava o contrário. Em seu livro 'The Theory of Economic Progress', ele atribui o desenvolvimento da indústria exatamente ao fraco domínio da religião sobre a sociedade.

Ayres justifica sua tese pelo fato de a Europa Ocidental ser uma "religião fronteira da civilização mediterrânea" e que, apesar de dever-se "reconhecer a Igreja como a ponta de lança da resistência institucional à mudança tecnológica, essa oposição foi ineficaz, [pesando] muito menos nos povos ocidentais do que o islã nos árabes, o hinduísmo na Índia ou o confucionismo na China".

Sendo assim, tendo sido "dentre todas as grandes civilizações da época, incomparavelmente a mais jovem, a menos rígida e menos reprimida do que qualquer outra pelas acumulações seculares de poeira institucional, [foi] de longe a mais suscetível à mudança e à inovação. [Isso] fez [dela] a mãe da Revolução Industrial".

Conclui-se, portanto, que, segundo a tese de Ayres, a religião cristã ocidental, apesar de seus preceitos formais contrários ao lucro, à usura e à competição, não tinha a força factual para conter o impulso capitalista.

Se aceitarmos a tese de Ayres, podemos concluir que o desafio para os religiosos dos tempos capitalistas é harmonizar esse liberalismo industrial com a ética cristã, sem enfraquecer aquele nem violar esta, mantendo assim uma sociedade próspera sem perder o fervor religioso.

Mas será que isso é possível?

Fabio Blanco

11 Nov, 10:48


Colocar a culpa dos desgotos presentes nas escolhas da juventude é um erro e uma covardia com o jovem que agia simplesmente conforme sua perspectiva juvenil. É a pessoa madura de agora, que, inclusive, é capaz de julgar criticamente o passado, que deve responder por suas escolhas atuais.

Fabio Blanco

10 Nov, 16:32


Tem gente que não quer ser especialista em nada, só quer ficar mais inteligente, só quer se capaz de ver as coisas e entendê-las. Tem gente que só quer ter liberdade para ler o que quiser, falar o que quiser e pensar como quiser.

Fabio Blanco

08 Nov, 16:35


"Quando observamos o desenrolar de uma vida humana, vemos que o destino de alguns é mais determinado pelos objetos de seu interesse e de outros mais pelo seu interior, seu subjetivo. E como todos nós pendemos mais para este ou aquele lado, estamos naturalmente inclinados a entender tudo sob a ótica de nosso próprio tipo".

Carl Jung, em seu livro ‘Tipos Psicológicos’, começando a explcar a diferença entre extrovertidos e introvertidos.

Fabio Blanco

07 Nov, 15:39


Muito além dos franceses

O Iluminismo francês é visto como um pai pelos intelectuais modernos. Isso não é por acaso. Como eles têm um apreço à rebeldia, ao antidogmatismo, ao materialismo e ao anticlericalismo, é natural que busquem suas origens naqueles que possuiam características semelhantes às suas, como Voltaire, Diderot, D’Alembert e companhia.

E como foram esses mesmos intelectuais que ficaram responsáveis por instruir as gerações atuais, não é de espantar que aprendamos nas escolas que o Iluminismo francês foi o guardião da racionalidade e do humanismo e o inaugurador da mentalidade esclarecida que lhe seguiu.

No entanto, a despeito dessa ascendência francesa sobre a ‘intelligentsia’, Gertrude Himmelfarb, em seu livro ‘Os Caminhos da Modernidade’, defende que, sobre o restante da sociedade, tal influência não foi tão grande como se pensa.

Na verdade, ela faz questão de lembrar que, no século XVIII, havia também britânicos e americanos desenvolvendo seus próprios iluminismos, exaltando valores semelhantes aos dos franceses e defendendo ideias parecidas com as deles. 

A diferença, segundo a historiadora americana, estava nos princípios. Enquanto os franceses exaltavam a razão como fundamento de suas ideias, os britânicos o tinham no senso moral comum e os americanos na liberdade individual.

Por isso, Himmelfarb conclui que os franceses não podem ser considerados os inauguradores dos tempos modernos. Afinal, suas ideias não foram as únicas, nem as primeiras, nem as mais influentes.

Na verdade, o que ela pretende é resgatar o Iluminismo do cárcere francês e restituí-lo aos seus verdadeiros criadores: os britânicos.

Essa sua obra, portanto, nos permite ter uma perspectiva muito mais ampla do que foi o ambiente intelectual do século XVIII ― muito além dos franceses ― e como ele delineou não apenas o pensamento posterior, mas as próprias instituições sociais e políticas do nosso mundo.

Lendo-a, compreendemos o nosso tempo não mais como mero rebento das ideias francesas, mas herdeiro de todo um ambiente maior de valorização do indivíduo e da razão.

Fabio Blanco

06 Nov, 19:48


Acabei de publicar uma aula, para a Oficina da Inteligência, chamada "O que é a Psicologia".

Nela, eu faço uma reflexão de como a Psicologia se tornou um instrumento de cura e por que eu a vejo, principalmente, como uma disciplina que busca o conhecimento.

Para assisti-la e todas as outras aulas da Oficina de Inteligência, basta fazer uma assinatura mensal de R$ 9,90.

Visite o meu site e conheça a grade de aulas.

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Fabio Blanco

01 Nov, 00:15


Independência Existencialista

Nossa vida é tomada por escolhas que fazemos constantemente. São centenas delas todos os dias. Desde quando acordamos e decidimos se fazemos café ou leite quente, até às grandes escolhas profissionais, passamos a vida decidindo entre uma coisa e outras.

O fato de estarmos envoltos em decisões constantes é, segundo Gary Cox, no seu livro ‘Como ser existencialista’, a base para a visão existencialista da vida. Não pelas decisões em si mesmas, mas porque, ao decidirmos, assumimos a responsabilidade pelas nossas decisões.

Segundo Cox, ser existencialista significa principalmente assumir a responsabilidade pelo próprio destino. Por isso, ele vê o existencialista em seu aspecto autônomo, em sua independência intelectual. Para ele, “o clube exclusivo [do existencialismo] é formado por aquela espécie de gente que pensa de modo independente, gente que afinal nunca se associa à clubes ou segue a multidão“.

Quando pensamos nesse tipo de autonomia de pensamento, tendemos a vê-la de maneira positiva, como um objetivo que todos deveríamos almejar. Afinal, ser independente é o que caracteriza uma mente inteligente. No entanto, quando nós rastreamos a história das ideias, observamos como o movimento existencialista, que se solidificou no início do século XX, caracterizou-se menos pela autonomia do que por um isolamento intelectual – um processo que caracterizou a humanidade desde o início dos tempos.

O pensamento existencialista parte de uma sensação comum: da absurdidade da existência. Este sentimento manifesta-se quando abstraímos a fé, pois o que sobra é um mundo sem muito sentido, onde, tantas vezes, a injustiça prevalece, o mal vence e a bondade não é recompensada. Sendo assim, principalmente naquele período da história humana, quando a confiança na ciência estava em seu máximo e, em contrapartida, a religião vivia uma crise de credibilidade, os homens começaram a desconfiar em quaisquer ideias que viessem desde fora deles mesmos e, com isso, tenderam a ensimesmar-se em suas convicções e percepções, valorizando muito mais seu sentimento em relação ao mundo do que qualquer dogma ou verdade coletiva.

O existencialismo surge, então, como o cume da confiança nas próprias escolhas como definidoras do destino do indivíduo. A lógica é simples: se tomamos decisões livremente, somos responsáveis por elas, e se somos responsáveis por elas, somos os próprios arquitetos do nosso destino.

No entanto, vejo nesse raciocínio uma certa ingenuidade, pois é notório que nossas escolhas não são totalmente nossas, pelo menos no sentido de serem totalmente conscientes. Sabemos o quanto elas são movidas por forças instintivas, alimentadas pela cultura, pela sociedade, pela nossa própria natureza inferior e até pelo chamado inconsciente coletivo. Sendo assim, não dá para tomar cada decisão como totalmente independente e, por isso, não podemos dizer que somos totalmente autônomos ─ como pretende a perspectiva existencialista.

Por isso, apesar de considerar o existencialismo atraente e até concordar, de maneira geral, com muitos dos seus preceitos, às vezes ele me parece mais um grito de desespero ou uma declaração de vontade, de quem enxergou o absurdo da vida e resolveu, diante disso, dizer: prefiro confiar em mim mesmo! O único problema é que isso não costuma estar de acordo com as exigências da realidade.

Fabio Blanco

21 Oct, 13:41


Meus amigos, tenho uma novidade. Agora vocês podem ser assinantes da minha Oficina de Inteligência pelo valor de R$9,90.

Essa mudança faz parte da finalização do planejamento .

Se você gosta do meu conteúdo e quer ficar mais inteligente, aproveite.

Para conhecer a Oficina, CLIQUE AQUI.

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Fabio Blanco

16 Oct, 00:24


Fui advogado por dezesseis anos. Em 2016, pendurei a gravata e o motivo tem a ver com o que temos testemunhado hoje em dia: o autoritarismo crescente do judiciário.

Recebi uma formação jurídica legalista. Ciente da inspiração positivista do nosso sistema legal, aprendi que todos estavam submetidos à rígida letra da lei. Tinha consciência que as amarras legais, muitas vezes, impediam a aplicação mais eficiente da justiça, mas também sabia que isso se dava em favor da segurança jurídica.

No entanto, há tempos, o Direito tem privilegiado a efetividade em detrimento da segurança e foi nesse sentido que o Código de Processo Civil, promulgado em 2015, em seu artigo 139, inciso IV, asseverou que incumbe ao juiz "determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária".

Peço ao leitor para que preste atenção no termo "todas" usado nessa redação. A partir dele, deixou de haver limitações claras para a atuação do magistrado. Em confronto com a tradição legalista, os juízes agora estavam livres para fazer o que bem entendessem para "cumprir a lei". Foi então que passei a testemunhar CNH's de motoristas profissionais e passaportes de viajantes comerciais apreendidos.

Ainda mantive a esperança de que algum freio seria imposto, pois esta era a tendência da jurisprudência. No entanto, o STF tem considerado reiteradamente que a previsão da aplicação das chamadas medidas atípicas é constitucional.

Diante dessa aberração, certo de que uma caixa de Pandora de autoritarismo havia sido aberta, preferi afastar-me dos fóruns. Estava claro, para mim, que o princípio democrático, como eu escrevi no artigo Eficiência na Democracia, que se apoia não na eficiência, mas principalmente na restrição dos poderes, inclusive dos juízes, estava violado.

Agora, vemos magistrados, do STF às comarcas mais longínquas, sentindo-se livres para "tornar efetiva a lei", da forma como lhes aprouver. E quem sofre não é apenas a segurança jurídica, mas os advogados e clientes que podem se ver envolvidos em processos verdadeiramente kafkianos.

Fabio Blanco

07 Oct, 21:46


A intelectualidade contemporânea tende a imaginar que suas preocupações são únicas na história. Para ela, os pensadores antigos, em especial os pré-socráticos, tendem a ser vistos como intelectuais primitivos, discutindo assuntos primitivos. Estudam-nos, é verdade, mas como personagens interessantes da história da filosofia, não como intelectuais relevantes para o esclarecimento das questões atuais.

Tal desprezo, porém, ignora a profunda contribuição que os pré-socráticos deram ao desenvolvimento do pensamento ocidental.

A verdade é que nos pensadores pré-socráticos já estavam delineadas praticamente todas as vertentes que iriam dividir o debate filosófico até hoje.Tanto que encontramos neles características que nos acostumamos a identificar como sendo típicas dos pensadores modernos, tais como a investigação da natureza em si mesma, a busca pelas leis subjacentes aos processos naturais, uma explicação natural para as origens do cosmos, o uso do cálculo e do raciocínio na previsão dos fenômenos naturais, o esforço por oferecer uma explicação racional da realidade, o surgimento de um materialismo e de um cientificismo.

Além disso, algumas formas de atuação, que nos parecem típicas dos intelectuais atuais, já se manifestaram naquele período, como o pensador racionalista abstrato, o cético sem proposição, a mentalidade cientificista, o filósofo terapeuta, o intelectual charlatão, o líder esotérico, o mentor para o desenvolvimento da excelência, o orador motivacional, o persuasor sem conteúdo e o instrutor remunerado.

A verdade é que nos pré-socráticos encontram-se o germe daquilo que iria delinear todo o a intelectualidade ocidental posterior, até hoje.

Por isso, se nós quisermos entender a mentalidade forjada no mundo ocidental, com suas características típicas e preocupações mais comuns, é essencial estudá-los, não apenas como uma curiosidade histórica, mas como uma forma de ampliarmos o entendimento sobre o pensamento que permeia o nosso próprio tempo. Para que, assim, olhando para os antigos, sejamos capazes de entender melhor a nós mesmos.

Fabio Blanco

03 Oct, 01:47


John Adams, um dos 'founding fathers' americanos, afirmou que a Constituição Americana "foi feita somente para um povo moral e religioso. Ela é completamente inadequada para o governo de qualquer outro".

O que ele queria dizer é que se os americanos fossem um povo amoral, aquelas leis seriam inócuas. Isso porque eram leis que, ao preocuparem-se primariamente com a preservação dos direitos e da liberdade das pessoas, pressupunham nelas uma virtude intrínseca.

A reflexão, porém, que eu faço é se o mesmo raciocínio não cabe em relação às nossas próprias leis, de nossos estados democráticos de direito.

Afinal, um ordenamento jurídico de um país democrático também pressupõe alguma boa-fé e moralidade de seu povo. Espera-se que, em geral, as pessoas se disponham a cumprir as leis. Se as leis pressupussessem que todas estão tentando violá-las, teriam de confessar que se tratam de regramentos para criminosos, não leis de uma democracia.

Assim, não apenas a Constituição de John Adams, mas as nossas constituições também são feitas, se não para um povo essencialmente moral e religioso, pelo menos para um povo que tenha alguma virtude. Até porque, se o próprio povo abrir mão de qualquer moralidade não haverá leis que dêem jeito.

Por exemplo, a nossa Constituição determina que um ministro do STF precisa ter "notável saber jurídico e reputação ilibada". Ao exigir tais qualidades, pressupõe que tais valores são identificáveis. No entanto, os senadores, que são os responsáveis por verificar a existência de tais requisitos, acabam fazendo um julgamento meramente político, baseado nos seus interesses políticos mais imediatos. Ou seja, quando não há virtude e nem o interesse por ela, a lei é inútil.

De qualquer forma, este é apenas um exemplo de como as regras, em um Estado de Direito, quando não são precedidas por um povo minimamente virtuoso, podem ser facilmente corrompidas.

Assim, só podemos chegar à conclusão de que uma sociedade minimamente saudável não pode depender apenas das leis para ordenar a si mesma, mas precisa possuir e defender valores que estejam acima e além delas.

Fabio Blanco

30 Sep, 18:28


Quase todo pensador moderno se vê, de alguma maneira, como um herdeiro do Iluminismo. Inclusive, esse sempre foi um motivo de orgulho. Querendo ou não, é certo que as ideias iluministas formataram o pensamento da intelectualidade ocidental. No entanto, quando se pensa em Iluminismo, logo a referência que nos vem à cabeça é o movimento dos philosophes franceses. Só que o iluminismo nem nasceu na França nem se restringe às ideias dos pensadores franceses.

Na verdade, o Iluminismo possui outras vertentes que não apenas se diferenciam das ideias francesas como oferecem outras perspectivas para as mesmas questões, como o problema da liberdade e da igualdade. Há um iluminismo britânico, um alemão e mesmo um americano 一 cada qual com suas características próprias, princípios próprios e oferecendo soluções próprias para os problemas tidos como vitais naquela época.

Por isso, no dia 19 de outubro, eu vou dar uma aula sobre OS ILUMINISMOS DO SÉCULO XVIII E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DO MUNDO OCIDENTAL. O objetivo dessa aula será ajudá-los a entender quais são as fontes do pensamento contemporâneo e compreender que elas se encontram além da visão anti-eclesiástica e anti-monarquista do Iluminismo francês.

A aula será presencial e, ao mesmo tempo, pelo zoom. Quem quiser receber mais informações, basta cadastrar-se gratuitamente na minha Oficina de Filosofia Integral, CLICANDO AQUI.

Fabio Blanco

30 Sep, 01:36


Hoje em dia, diante da proliferação das chamadas "doenças da alma", como a depressão, a ansiedade e o esgotamento, muitos se apressam para encontrar suas causas nos elementos biológicos, como em desequilíbrios hormonais, celulares ou vitamínicos.

Sem negar, porém, a ocorrência desses desequilíbrios, lançar sobre eles a única razão para os transtornos psíquicos me parece apenas uma maneira bem sorrateira de não se observar os motivos comportamentais que podem estar contribuindo para que eles ocorram.

Enquanto tudo for culpa do desequilíbrio biológico, não sobra espaço para uma revisão séria do nosso estilo de vida e de nossas prioridades; tudo passa a ser resolvido apenas por remédios.

Fabio Blanco

24 Sep, 14:48


Só há um jeito de sobreviver a um mundo completamente alucinado e imerso em ilusões: não devendo nada para ele e não esperando nada dele.

Quando você despreza as ideologias mundanas e suas exigências, "ainda que mil caiam ao seu lado e dez mil morram ao seu redor, você não será atingido".

Fabio Blanco

23 Sep, 23:46


Será que somos capazes de mudar o nosso comportamento, superando as restrições impostas pelos nossos caracteres e temperamento?

Na aula que eu acabei de disponibilizar em minha Oficina de Filosofia, chamada Dominação da Natureza, falo sobre isso.

Esta é uma aula exclusiva para assinantes, mas estou deixando ela disponibilizada, por 24 horas, para alunos cadastrados.

Aproveite, CADASTRE-SE e assista esta e outras aulas para o mesmo nível de associação.

Fabio Blanco

23 Sep, 22:02


Na minha Oficina de Filosofia eu disponibilizo aulas abertas, (contendo reflexões mais gerais), aulas apenas para cadastrados (contendo estudos introdutórios de diversas matérias) e aulas para assinantes (contendo o conteúdo específico de formação).

Portanto, aproveite para se cadastrar no site e ter acesso às minhas aulas.

Fabio Blanco

23 Sep, 18:06


É impossível entender a mentalidade ocidental sem conhecer minimamente a formação do pensamento grego.

Foi a Grécia que moldou a forma de pensar do povos posteriores, do Oriente Próximo ao Ocidente Extremo.

Por isso, estou incluindo na minha Oficina aulas que se propõem a apresentar a Filosofia Grega, desde os seus primórdios.

Aqui estão algumas aulas que estão programadas:

📚A importância da Filosofia Grega
📚Nascimento da Filosofia
📚Tales, Anaximandro e Anaximenes
📚Pitágoras e a Filosofia
📚Heráclito e o Devir
📚O Início da argumentação Filosófica
📚Construtores de Sistemas
📚Do Monismo ao Atomismo
📚Humanismo e Iluminismo
📚Platonismo
📚Aristotelismo
📚Estoicismo
📚Epicurismo
📚Ceticismo
📚Neoplatonismo

Fabio Blanco

23 Sep, 14:18


Vivemos um dos tempos mais difíceis, não exatamente por serem tempos finais, mas por serem tempos de transição, quando estamos chegando no ápice de toda imbecilização e estupidez.

Provavelmente, tudo isso vai gerar algum tipo de renascimento da inteligência, mas, até lá, seremos nós da geração a passar por essa idade de trevas.

Em períodos como este, não há muito o que fazer, senão esforçar-se seriamente por compreender esse processo.

Por isso, precisamos estudar e isso, longe de ser uma evasão, é o verdadeiro campo de batalha.

Fabio Blanco

22 Sep, 20:01


Não sei se todos vocês já entenderam o trabalho que eu estou fazendo por aqui. Confesso que não é fácil explicar, porque não é um modelo ortodoxo de ensino.

De qualquer maneira, o que eu estou me propondo a fazer é ajudar as pessoas a construir um caminho para o desenvolvimento de uma inteligência saudável e capaz de ler e entender a realidade.

Para isso, estou oferecendo a edificação do conhecimento a partir das bases. Inclusive, eu escrevi um texto chamado CONHECIMENTO A PARTIR DOS FUNDAMENTOS, no qual eu explico os motivos desse método.

O fato é que o meu projeto de vida é ajudar as pessoas a tornarem-se mais aptas a entender suas vidas e um dos caminhos mais óbvios é por meio dos estudos. Por isso, criei minha Oficina de Filosofia, da qual convido todos vocês a participarem.

Fabio Blanco

22 Sep, 02:56


Fiz uma reflexão sobre como o tédio é a nossa condição natural e como escapar dele é a nossa motivação básica.

Esse pensamento está em minha aula TÉDIO PRIMORDIAL.

Assistam!

Fabio Blanco

19 Sep, 15:48


Eu acabei de disponibilizar, na minha Oficina de Filosofia, a aula A UNIDADE ENTRE O CONHECEDOR E O CONHECIMENTO. Nela, eu falo da relação entre aquele que estuda, as informações que ele absorve e como isso se transforma em uma unidade.

Essa aula está disponível apenas para assinantes.

Fabio Blanco

17 Sep, 12:48


Disponibilizei a reflexão SÊNECA E O TEMPO no meu site.

Vale á pena ouvir para pensarmos sobre como estamos conduzindo a nossa vida.

Fabio Blanco

16 Sep, 01:57


Eu acabei de gravar, em minha Oficina de Filosofia, uma aula chamada SABEDORIA DA IGNORÂNCIA. Nela, comento sobre a conhecida frase de Sócrates, quando ele diz "Só sei que nada sei".

Essa aula pode ser assistida gratuitamente, bastando estar cadastrado no meu site.

Fabio Blanco

12 Sep, 13:17


Acabei de publicar a aula UNIDADE DO CONHECIMENTO, na minha Oficina de Filosofia Integral. Nesta aula, eu explico como funciona o processo epistemológico humano e como ele faz do homem um ser uno.

Para assisti-la, basta ser assinante em minha Oficina.

Fabio Blanco

12 Sep, 01:59


TÉDIO PRIMORDIAL

O tédio é o estado primordial do ser humano e fugir dele, nosso impulso primário. Não digo isso, porém, por conta de uma sensação subjetiva minha, mas baseado em observação. É, de fato, a conclusão de uma reflexão filosófica.

O próprio testemunho cotidiano dá indícios dessa verdade. Basta ver que estão todos tentando ocupar-se e a solitude é demasiado temida. Alguns ocupam-se com o trabalho, outros com diversões, outros até com nobres atividades, como o estudo, a religião e a filantropia. De qualquer forma, mesmo sem saber, está todo mundo tentando escapar do tédio.

Isso é tão sério que tem gente que abre mão da paz, por parecer tediosa, para manter-se em situações tumultuosas e relacionamentos degradantes que, pelo menos, agitam sua vida. Eu canso de ver pessoas, por exemplo, que mesmo tendo a oportunidade de livrar-se de relacionamentos violentos e vilipendiosos, escolhem permanecer neles. Quem as observa de fora tende a concluir que sua atitude trata-se de algum tipo de dependência emocional ou comodismo, quando, muitas vezes, pode ser algo mais complexo e profundo: a necessidade de evitar o tédio. Afinal, nesse tipo de relacionamento, pelo menos, elas sentem que estão vivas, que algo pulsa dentro delas.

Esse tédio nos parece tão assustador porque ele é algo mais profundo e sutil do que a mera ausência de agitação. Quem já morou sozinho – como foi o meu caso, durante anos – conhece o sentimento de perceber-se existencialmente isolado, de passar boa parte de seu tempo sem o testemunho de um outro ser humano, de viver sem ninguém lhe observando, a ponto de, em alguns instantes, parecer até que nossa própria existência não passa de um estado ilusório. É desse vazio triste e existencial – o qual chamo de tédio – que fugimos.

Porém, não tentamos escapar desse tédio porque pensamos nele, mas pelo fato de o sentirmos dentro de nós. Isso porque ele é a nossa condição fundamental, o nosso estado puro, aquele que nos constitui quando decidimos nos manter na posição de repouso, na imobilidade. E, como essa letargia é incapaz de dar qualquer sentido à nossa vida, somos impulsionados a movimentar-nos e a evitarmos, seja como for, esse sentimento de alienação existencial.

Sendo, então, esse impulso de fuga do tédio natural e inescapável que, pelo menos, ele se dê por meio de vias mais nobres e, assim, que o vazio existencial seja espantado com um movimento em direção às coisas superiores.

Fabio Blanco

05 Sep, 12:10


SÊNECA E O TEMPO

Sêneca, filósofo romano do primeiro século, sabia que as pessoas vivem como que impregnadas à existência terrena e, por isso, têm muita dificuldade de se enxergarem além dela. Suas vidas estão tão envolvidas na materialidade deste mundo que, inclusive, evitam pensar na morte ─ que significa o fim da vida presente ─ e acabam vivendo, no fim das contas, como se não fossem morrer.

O filósofo, então, notou que essa deliberada ignorância em relação à morte levava as pessoas a não prestarem muita atenção ao tempo de vida que elas têm e, por causa disso, a não o enxergarem como um valor. E essa é a razão delas consumirem suas vidas, gastando seus dias com coisas fúteis, com preocupações superficiais.

Sêneca via isso com tanta clareza que afirmava categoricamente que nós somos esbanjadores do tempo, desperdiçando-o em coisas sem sentido. Ele dizia que, com aquilo que valorizamos, como o dinheiro, o nosso patrimônio e nossos bens, costumamos ser bastante cuidadosos, a ponto, inclusive, de sermos avarentos; mas quando se trata do tempo, por não entendermos seu valor, nos tornamos, em relação a ele, pródigos, gastadores.

Sêneca acreditava que usamos muito mal o nosso tempo, mas isso não significa que ele o tinha por escasso. Pelo contrário, o problema, para ele, não era o fato do tempo ser curto, da vida ser breve, mas sim de tornarmos o tempo curto e a vida breve ao jogar fora o tempo que nos é dado, desperdiçando-o com o que não têm importância.

Para Sêneca a vida que nós vivemos, de fato, é muito pequena, porque todo o restante, ocupado com o que é temporal e com as coisas deste mundo, não é vida de verdade. Vida, certamente, para ele, é experimentar algo que tenha um sentido mais profundo, que esteja além do mero fruir do cotidiano imediato. O certo é que vida verdadeira só existe, enfim, quando tem alguma relação com a eternidade.

Sem dúvida, o tempo, para Sêneca, é o bem mais precioso que os homens possuem. Porém, ele insistia que o seu valor não está na mera duração, e sim na qualidade da experiência existencial. Portanto, a reflexão que ele nos instiga a fazer é sobre a maneira como estamos conduzindo o tempo que temos, sobre o uso que estamos dando a ele. A pergunta que, provavelmente, o filósofo nos faria seria: vocês estão vivendo ou gastando seu tempo?

Fabio Blanco

04 Sep, 00:29


Paixões como antídoto para o visionarismo dos intelectuais