Como o último dos membros fundadores e membro mais antigo do coletivo ainda em atividade, após longa reflexão e reuniões eu Nicolay, venho até vocês hoje, para fazer um importante pronunciamento.
Qual é o preço que se paga por tentar tornar o mundo melhor? Por desafiar um sistema que existe para garantir, principalmente, que este mesmo sistema continue a existir? Um sistema que aliena, persegue, corrompe, institui e mantém abusos. O preço que pagamos é o de aprender coisas que não podem ser esquecidas. Coisas que se tornam parte de quem somos e do que somos, e nos ferem, deixando cicatrizes em nossas almas. Após anos de instabilidade e ausência, um grupo de ativistas de longa data se reuniu com um propósito: o de reacender as chamas da revolta e lutar por uma sociedade que clamava por auxílio. Assim surgiu a EterSec, um braço do movimento Anonymous no Brasil. Durante estes anos de atuação, várias pessoas vestiram a máscara e, através dela, contribuíram com suas habilidades em produção de textos, análises de dados, infiltração, investigação, invasão de sistemas, exfiltração de informações, desenvolvimento de sistemas e ferramentas. Através desse coletivo, crimes como corrupção, abusos de poder, usurpação de fé, excesso de força ostensiva, desvios de dinheiro e outros diversos esquemas que corrompem e prejudicam a vivência em sociedade e os direitos humanos foram combatidos. As diversas operações oficiais, denúncias e pedidos de ajuda que chegavam até nós diariamente eram distribuídas conforme as habilidades e disponibilidade do nosso coletivo, pois todo o trabalho desenvolvido era e sempre foi voluntário. Sem qualquer tipo de financiamento externo, criamos uma poderosa estrutura para lutar pela justiça do absoluto nada. Isso só foi possível graças ao empenho de todos que acreditaram neste ideal.
Porém, com consciência de que devemos agir com a mesma justiça e transparência que buscamos arduamente durante toda a nossa trajetória, não podemos deixar de fazer uma importante retratação. Através de uma conhecida ativista, uma denúncia a respeito de uma máfia de venda de sentenças de casos de alienação parental em favor dos agressores chegou até nós. Assumimos a demanda de trazer a público este esquema fraudulento. Enviesados por um relacionamento estreito de cooperação e induzidos ao erro por uma matéria jornalística parcial e sensacionalista, cometemos o erro de expor, errônea e injustamente, a juíza que buscava trabalhar para que se cumprisse os direitos da vítima. Em razão dessa ação, um processo de quebra de sigilo foi instaurado pelo Ministério Público, que resultou na queda de nossa página na antiga rede social Twitter, hoje chamada de X. Mesmo que quem trabalhou nessa operação já não esteja mais entre nós, compreendemos que como coletivo as falhas são de todos. Entendemos, também, que mesmos induzidos ao erro, temos também responsabilidade nesta grande injustiça.
Um dos preços que pagamos foi o de termos aprendido grandes lições, e sabendo que, ainda que possamos representar algo que as pessoas de fato mereçam que exista, entendemos que em toda a atual conjuntura social enquanto célula atuante não somos aquilo que a sociedade precisa que sejamos. Seremos agora, portanto, o que compreendemos que a sociedade precisa. Seremos as pessoas por trás das máscaras. Seremos pais e mães, irmãos e irmãs, filhos e filhas e buscaremos agora alguma parcela de paz com a consciência de que lutamos muito uma luta injusta, e não fomos derrotados em nenhum momento senão por nós mesmos. Nossa crença em um mundo melhor e uma sociedade mais justa segue, ainda que por muitas vezes tenhamos visto nos olhos de pessoas realmente más o quanto é poderosa a onda de destruição que nos cerca. Mas em meio a toda uma gigantesca e densa escuridão, basta apenas um único feixe de luz para que ela seja dissipada. Se outros pequenos pontos de luz se acenderem, essa escuridão pode, sim, ser vencida.
Depende de cada um de nós que isto seja feito.