Detalhando ainda mais, a RCP é um conjunto de manobras destinadas a garantir a perfusão (circulação sanguínea dos diferentes tecidos) de sangue e assim, a oxigenação dos órgãos quando a circulação do sangue de uma pessoa para (como numa parada cardiorrespiratória). Nesta situação, se o sangue não é bombeado para os órgãos vitais, como o cérebro e o coração, esses órgãos acabam por entrar em necrose isquêmica (morrem por falta de sangue), pondo em risco a vida da pessoa.
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Compreender a complexa dinâmica fisiológica da perfusão cardiocerebral durante a RCP é crucial para reduzir a morbimortalidade após a parada cardíaca pelo manejo adequado.
Como já dito, o primeiro passo crítico para uma ressuscitação bem-sucedida é restaurar o fluxo sanguíneo (FS). Sobretudo “dois” FSs principais tem de ser prontamente restabelecidos, e um “terceiro” logo em sequência. Os dois primeiros FSs primordiais são o coronariano (do coração) e o cerebral. O terceiro seria o fluxo para os demais órgãos, o leito sistêmico em geral.
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Normalmente, quem geraria esse aumento da pressão aórtica para impulsionar o sangue seria o débito sistólico do coração contraindo, ou seja, a quantidade de sangue que o coração ejetaria (na aorta) em cada sístole, aumentaria a pressão lá, que moveria a massa de sangue no sentido dos capilares e assim perfundiria os tecidos. Porém numa pessoa em PCR o coração não está mais batendo (ou batendo de forma insuficiente), e assim, quando a desfibrilação não consegue fazer o coração voltar a bater e restabelecer o FS, é necessária a restauração dele de uma outra maneira.
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Essa “outra maneira” também tem que gerar uma pressão na aorta suficientemente alta para “empurrar” o sangue ao longo dos vasos (como dito, a principal força propulsora do FS sistêmico é um gradiente entre a pressão na aorta e no átrio direito). Uma maneira (ainda que não completamente suficiente em muitos casos, mas ainda a melhor que nós temos) rápida e prática de fazer isso é usando um par de mãos, causando uma compressão (e descompressão) torácica (e uma ventilação artificial, o velho boca-a-boca), a chamada massagem cardíaca (torácica fechada).
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O princípio fisiológico por trás das alterações dos parâmetros cardiovasculares alterados pela massagem cardíaca para o restabelecimento do débito sistólico (e do FS) apresenta dois componentes principais e duas fases:
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O modelo da bomba cardíaca: A compressão direta do coração entre o esterno e o corpo vertebral, levando o sangue a ser espremido (ejetado) para fora do coração com compressão e o sangue do retorno venoso entrando no coração durante a descompressão. Isso sem dúvida ocorre, mas as evidências apontam que tem uma contribuição modesta para o débito sistólico.
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O modelo da bomba torácica: As alterações da pressão torácica (gradiente entre os vasos intratorácicos e extratorácicos) são responsáveis pelas alterações na pressão aórtica e atrial que restabelecem o FS (ambas pressões possuem relação linear positiva com a pressão intratorácica). Ou seja, a formação de um gradiente de pressão entre a cavidade torácica e o resto do corpo restabelece o FS. Lembre-se que as oscilações das pressões intratorácicas contribuem (ainda que pouco) fisiologicamente para as oscilações do débito cardíaco com a respiração.
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A FASE DE COMPRESSÃO TORÁCICA:
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É a fase em que as mãos estão pressionando o peito pra baixo, e a cada compressão, a pressão intratorácica aumenta, o coração é comprimido entre o esterno e coluna, as pressões aórtica e atrial direita aumentam, com pressão atrial direita semelhante ou, às vezes, maior do que as pressões do lado esquerdo. O sangue é impulsionado para frente do coração (que não tá batendo, viu?) em direção ao cérebro, artérias coronárias e o resto do corpo devido à presença de válvulas unidirecionais dentro do coração e às diferenças de pressão entre o tórax e as regiões não torácicas.
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