Carinho inesperado da filha. Dinheiro esquecido na roupa. Cheiro de comida antes de abrir a porta de casa.
Sono que vem quando se precisa. Uma solução que surge de repente. Alguém elogiando você, sem saber que você escuta. Alguém elogiando seu filho.
A febre que baixa. Um guichê sem fila. Vaga na porta.
Um voo tranquilo. Cigarras. O vento do mar. O mar.
O dia do nascimento dos seus filhos; a caminhada da sala de parto até o berçário segurando aquele pacotinho; a constatação: essa vida depende de mim.
Quando o avião pousa. Quando o pai chega. Quando a dor passa.
Quando rola um beijo. Quando assinam o contrato. Quando o abraço aperta.
Quando o amigo se cura. Quando a foto sai boa. Quando o sono vem.
Quando a mesa é posta para o almoço de família no domingo.
Quando o depósito cai na conta.
Quando dá praia.
Quando alguém liga.
Quando o livro é bom.
Quando sobra grana.
Quando o neném ri. Quando falam o seu nome. Quando a poltrona é na janela.
Quando o pão está quentinho. Quando é música italiana. Quando a mulher passa a mão nos cabelos.
Quando chega o outono e as folhas cobrem as calçadas.
Quando o médico diz: “Foi só o susto”.
Quando seu pai aparece para você em um sonho, dizendo: “está tudo bem filho”.
Quando o sol se põe no mar, entre as ilhas Tijucas, no meio do verão.
Quando você achava que era tarde, mas descobre que ainda é cedo, muito cedo.
Fiquem em paz. E feliz ano novo.