Um Resgate Moral #Artigo #Filosofia
Tendo estudado recentemente sobre a Paideia grega, não pude deixar de fazer uma reflexão sobre as profundas diferenças que marcam nossas civilizações.
A Paideia foi um modelo educacional que tinha por objetivo supremo formar um cidadão perfeito, e contava com uma metodologia que ia desde a educação física, para a saúde do corpo, até aspectos espirituais, passando por formação de caráter, controle emocional, disciplina mental, valores morais e etc., para a saúde da alma.
Levava o homem à percepção da vida como algo transcendente, em que ele é parte de um Todo, como pequena célula de um organismo cósmico. E como toda célula, cada um cumpre com um propósito, intransferível e ineludível, seu Ideal e sua obrigação.
Para os velhos gregos, não buscar esse propósito sagrado seria não apenas imoral, mas também indigno da condição humana, sendo assim, preferível, não viver, pois viver significava mais que sobrevivência. Viver era cumprir com as obrigações humanas que os aproximariam dos deuses, tornando a vida, assim, heroica. E talvez por isso tivessem tantos heróis.
Hoje, lendo os noticiários do que ocorre no Brasil e no mundo, é até difícil de acreditar que somos mesmo herdeiros daquela magnífica cultura.
Que nos restou daquele apuradíssimo senso de estética apreciado em suas estátuas e estrofes poéticas? Ou da estética metafísica (beleza da alma) presente em sua herança imaterial, suas leis, sua filosofia, sua formação moral e os exemplos de vida que nos deixaram?
Onde encontrar a coragem de um Leônidas, o refinamento moral de um Sólon, ou a sabedoria de um Platão, que 2500 anos depois continuam despertando nossa reverência?
Necessitamos urgentemente de um resgate, um resgate moral, pois como tem sido apontado por inúmeros estudiosos; economistas, ecologistas, cientistas, historiadores e outros, a crise que se abate sobre nós é, fundamentalmente, uma crise moral.
Não é por falta de recursos que nosso mundo se encontra em perigo, nem por falta de conhecimentos científicos, pois em ambos temos mais do que jamais tivemos.
Nossos estados caem, a violência cresce, a guerra se acirra, porque nós, simplesmente, não fazemos aquilo que todos nós sabemos ser o certo, o Moral.
Os homens se apoiam no Legal (se o fazem), como se as leis, que eles mesmos escreveram, fossem a verdade sobre o certo e o errado, quando sabem em seu íntimo que esses valores não podem ser modificados, como não podem ser modificadas as Leis da Natureza.
E ao estar regidos por leis naturais, se agirmos mal às escondidas (ou em público, pois o pudor tem estado em falta), a natureza será prejudicada da mesma forma, nós seremos prejudicados da mesma forma.
Mas nós podemos ser bons! E na visão daqueles velhos gregos, nossos ancestrais, é essa nossa missão, nosso dever, nosso Ideal. E não seremos felizes se não formos bons.
Não é tão difícil percebê-lo, é questão de bom senso. Faz parte da sabedoria popular, e em nosso íntimo sentimos que apenas os bons devem “ser felizes para sempre”, como naqueles contos da infância.
O que os gregos, e muitos outros povos da antiguidade, nos ensinaram, e que constitui nosso legado humano, é que devemos buscar o Bem.
Nas palavras de Platão; Bondade, Beleza e Justiça, devem constituir nosso mais elevado propósito. E é para essa busca que devemos nos educar, e para ela dedicar nossas vidas.
Jean Cesar Antunes Lima
Professor de filosofia em Nova Acrópole